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A crença na existência de uma vida após a morte é atestada
desde a Idade da Pedra pelas práticas funerárias em culturas
primitivas. Todavia, foi apenas nos séculos VI e V a.C. que tanto
judeus como gregos cristalizaram suas crenças na vida após
a morte, que legaram ao cristianismo, bem como a toda cultura ocidental (Cf.
PANNENBERG, Systematische Theologie – Vol. 3, p. 556).
No cristianismo primitivo, esta crença teve algumas nuanças
de significado no pensamento dos diferentes teólogos. O apóstolo
Paulo e Clemente de Roma (que foi citado pelo apóstolo em Fp 4.3 e
viveu no fim da era apostólica, c. 96) referem-se apenas à idéia
de ressurreição da vida. Justino, o Mártir, (c. 110-165)
fala da ressurreição da vida para salvação ou
para julgamento. Ireneu (c. 115-200) e Tertuliano (c. 160-220) ensinaram
que a alma é imortal. Todavia, Clemente de Alexandria (c. 160-220)
defendia que apenas o Espírito Santo poderia imortalizar a alma dos
seres humanos.
Não obstante, a teoria platônica da imortalidade da alma deixa
certas marcas mais profundas na obra de Orígenes (c. 185-253). A partir
de então, através do contato com a filosofia platônica
em Orígenes e, mais tarde, em Agostinho (c. 354-430), doutrinas como
esta foram sendo plasmadas na mente dos crentes em geral, de modo que diz
Oscar Cullmann: “Se hoje perguntarmos a um cristão, seja protestante
ou católico, intelectual ou não, o que diz o Novo Testamento
sobre a sorte individual do homem depois da morte, com poucas exceções
a resposta será: ‘a imortalidade da alma’. Nessa forma
esta opinião representa um dos maiores equívocos do Cristianismo” (CULMANN,
Imortalidade da alma ou ressurreição dos mortos, p. 17).
No entender de Oscar Cullmann, as cenas usadas no NT para descrever a condição
daqueles que morreram em Cristo provam que a ressurreição de
Cristo está efetivada e, assim, eles já estão com Cristo
na eternidade e sua ressurreição se manifestará no tempo,
tal qual o próprio Senhor Jesus (Cf. CULMANN, Imortalidade da alma
ou ressurreição do mortos, p. 41). Esta idéia é corroborada
pela visão de Wolfhart Pannenberg acerca da ressurreição
de Cristo como prolepse, isto é, como antecipação do
fim da História. Assim, o destino dos crentes neste mundo e também
no porvir está intimamente ligado ao do próprio Cristo. “A
continuidade de nossa vida presente com a vida futura da ressurreição
dos mortos não deve ser buscada na seqüência linear do
tempo; ela reside no caráter oculto do Deus eterno, cujo futuro já está presente
em nossas vidas” (PANNENBERG, Wolfhart. Systematische Theologie –Vol.
3, p. 574).
Por outro lado, a concepção do período transitório
entre a morte e a ressurreição geral, no tempo do fim, foi
permeada na história da teologia pela doutrina da imortalidade da
alma, embora sempre se tivesse em mente que a alma separada do corpo não
pode ser considerada capaz de sustentar uma existência humana plena.
Mesmo aqueles que sustentaram a doutrina da imortalidade da alma acreditam
como que a unidade entre corpo e alma é indispensável para
a vida humana. Alguns grupos cristãos que não aceitam a doutrina
da imortalidade da alma, mas acabam por defender uma idéia popularmente
conhecida como “sono da alma”, onde os mortos estariam em um
estágio de “hibernação”, aguardando a volta
de Cristo. Estes grupos caem no equívoco de, a despeito de não
subscreverem a doutrina, continuarem a interpretar a questão dentro
da mesma perspectiva. Equivocadamente continuam a admitir algum tipo de “existência” entre
o tempo e a eternidade.
Contrariamente a isto, a Escritura nos adverte: “E, assim como aos
homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto,
o juízo” (Hb 9.27). O juízo segue-se à morte,
pois passa-se do chrónos ao kairós, muda-se o parâmetro
temporal. Do tempo linear para a eternindade. Logo, para o cristianismo bíblico
não há imortalidade nem sono da alma, mas apenas a mudança
de estado do tempo para a eternidade. Na Parousia, tempo e eternidade se
encontrarão. É isto que, hoje, ansiosamente aguardamos!
Site: www.teologiahoje.blog.com
Data: Acessado
em 07 de Abril de 2013.