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A Redenção
do Meio-Ambiente
e a Coroa de Espinhos
Por Hermes C. Fernandes
___________
...Para
entendermos melhor a grandiosidade da redenção
realizada por Cristo, precisamos compreender a extensão
do estrago feito pela Queda/Ruptura. O pecado não
apenas atingiu o ser humano, seu protagonista, como também
o cenário no qual estava inserido. E isso por causa
de profunda ligação entre o homem e a terra.
Biblicamente, esses dois termos são muitas vezes
intercambiáveis (por exemplo: Sl.96:13; Jr.22:29;
Os.1:2; Ap.13:3). Quando Deus fala à Terra, está falando
aos seus moradores. O homem não é apenas
produto do pó da terra, ele é a Terra, que
recebendo o sopro da vida, passa a ter consciência
de si mesma, e da realidade na qual está inserida.
...O
pecado humano não
poderia ficar impune. Ele traria resultados que afetariam
o homem e o seu ambiente.
...“Ao
homem disse: Porque deste ouvidos à voz de tua
mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo:
Não comerás dela, maldita é a terra
por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias
da tua vida. Ela produzirá também espinhos
e abrolhos, e comerás das ervas do campo. Do suor
do teu rosto comerás o teu pão, até que
tornes à terra, porque dela foste tomado; pois és
pó, e ao pó tornarás.”
........................................................................ Gênesis
3:17-19
...Até aquele momento, a Terra era um ecossistema perfeito,
um verdadeiro paraíso. Todos os seres vivos estavam
em harmonia, e submetiam-se prazerosamente ao homem. Lavrar
e guardar a terra era uma atividade extremamente prazerosa
e gratificante. Mas agora, o trabalho tornar-se-ia penoso,
na medida em que a terra passasse a produzir espinhos e
abrolhos. O homem e toda a natureza havia se degenerado.
...Nas palavras de Paulo, “a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou” (Rm.8:20). Os espinhos representam a reação da natureza à vaidade humana. Ela que antes estava sujeita ao homem em plena comunhão com seu Criador, agora teria que se sujeitar a um homem rebelde e vaidoso. Por mais que o homem busque construir um ambiente mais acolhedor, tentando de algum modo reproduzir artificialmente o paraíso perdido, os espinhos o acompanham. Isaías profetiza: “Nos seus palácios crescerão espinhos, urtigas e cardos nas suas fortalezas. Ela será uma habitação de chacais, e lar para as corujas” (Is.34:13). Não há como fugir, os espinhos estão por toda parte, como lembrança de que nossa natureza está igualmente degenerada, à exemplo da natureza à nossa volta.
...Na verdade, os espinhos servem a um propósito benéfico. Eles nos esvaziam quando estamos inflados por nossa própria vaidade. Que o diga Paulo, que para que não se exaltasse pela excelência das revelações que recebera de Deus, recebeu de bônus um espinho na carne.
...De fato, o mundo não é mais um lugar seguro pra se viver. E não se trata de um fenômeno novo. Desde a Ruptura, o mundo deixou de ser um lugar seguro para a raça humana. Não só a terra passou a produzir espinhos, mas o próprio coração humano passou a ser um terreno inóspito para o Espírito de Deus e para a Sua Palavra.
...Na parábola do Semeador, Jesus diz que uma parte das sementes “caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram (...) O que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas, sufocam a palavra, e fica infrutífera” (Mt.13:7,22).
...O homem natural não consegue entender as coisas espirituais, pois lhe parecem loucura, já dizia Paulo. Seu coração está tomado de espinhos, devido à sua natureza degenerada. Jesus identifica esses espinhos com “os cuidados deste mundo”, e com “a sedução das riquezas”. Quando ele começa a achar que está conseguindo preencher o vazio de sua alma, esses mesmos espinhos lhe causam perfurações tão agudas, que acabam por ocasionar em um vazio ainda maior.
...O
que esperar de uma raça caída, com a alma
tomada por espinhos? Miquéias, em um momento de
desespero, deixa escapar um grito:
...“Ai
de mim! Estou feito como quando são colhidas
as frutas do verão, como os rabiscos da vindima;
não há cacho de uvas para comer, nem figos
temporãos para que a minha alma deseja. Pereceu
da terra o homem piedoso, e não há entre
os homens um que seja reto. Todos armam ciladas para sangue;
cada um caça a seu irmão com uma rede. As
suas mãos fazem diligentemente o mal; o príncipe
exige condenação, o juiz aceita suborno,
e o grande fala da corrupção da sua alma,
e assim todos eles são perturbadores. O melhor deles é como
um espinho, o mais reto é pior do que uma sebe de
espinhos. Veio o dia dos teus vigias, veio o dia da tua
visitação. Agora é o tempo da sua
confusão. Não creiais no amigo; não
confieis no companheiro. Daquela que repousa no teu seio
guarda as portas da tua boca. Pois o filho despreza o pai,
a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra
sua sogra; os inimigos do homem são os da sua própria
casa”.
........................................................................... Miquéias
7:1-6.
...Sentimo-nos
envergonhados, e igualmente desesperados quando constatamos
a grave situação em que se encontra
a humanidade. Corrupção, impunidade, terrorismo,
intrigas, são apenas alguns dos espinhos produzidos
no terreno inóspito do coração humano
sem Deus. Mas o que dizer da Igreja, a nova humanidade
recriada em Cristo. O que se deve esperar dela?
...“A
terra que embebe a chuva que muitas vezes cai sobre ela,
e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada,
recebe a bênção da parte de Deus. Mas
se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto
está da maldição. O seu fim é ser
queimada. Mas de vós, ó amados, esperamos
coisas melhores e pertencentes à salvação,
ainda que assim falamos.”
........................................................................... Hebreus 6:7-9
...Esta é a promessa de Deus para com o Israel da Nova
Aliança: “A casa de Israel nunca mais terá espinho
que a pique, nem abrolho que lhe cause dor, entre os que
se acham ao redor deles e que os desprezam. Então
saberão que eu sou o Senhor Deus” (Ez.28:24).
...Somos o povo regenerado por Deus. Somos a nova Criação. Somos a nova Terra. E o prenúncio de que em breve, tudo à nossa volta será igualmente regenerado. O preço pago por Cristo na Cruz, não apenas liquidou nossa fatura, mas também desfez a maldição que pesava sobre a natureza. A coroa de espinhos que Ele trazia em Sua cabeça apontava para a redenção de toda a criação (Mc.15:16-17). A Cabeça da nova humanidade, Cristo, foi perfurada pelos espinhos da nossa vaidade. Antes que os espinhos brotem na terra, eles brotam na cabeça, na mente, na consciência humana cauterizada pelo pecado. Por isso, Cristo teve Sua cabeça coroada de espinhos. Lá na cruz, Deus feito homem, arcou com as conseqüências da Queda.
...Uma vez que Cristo tenha pago o preço da redenção da criação, resta-nos trabalhar para que a humanidade se alie ao resto da criação, deixando de ser predadora e destruidora, para ser sua cultivadora e guardiã.
Site: www.hermesfernandes.com
Acessado quinta-feira,
novembro 06, 2014