Equívocos Chamada da meia-noite

O conhecidíssimo site dispensacionalista Obra missionária Chamada da meia-noite, publicou um artigo intitulado "14 Falsos Ensinos - E Como a Bíblia os Refuta"[1] de Thomas C. Simcox. O equívoco foi do autor por ter escrito tal artigo, e também da Chamada da meia-noite por tê-lo publicado. E qual foi o equívoco? Dos 14 falsos ensinos citados pelo autor, o equívoco encontra-se no intem cinco que é a respeito do Preterismo.

Observe a citação inteira:

   "Todas as profecias foram cumpridas no ano 70 d.C. - Preterismo

   Exemplos de profecias não cumpridas:

   Naquele dia os seus pés [de Jesus] estarão sobre o monte das Oliveiras (...), e o monte se dividirá ao meio (Zc 14.4).

   O sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados (...) e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens (Mt 24.29-30)".[2]

Pelo menos três equívocos podem ser encontrados na declaração acima.

O primeiro equívoco encontra-se no uso da palavra Preterismo. O sistema que ensina que "todas as profecias foram cumpridas no ano 70 d.C." é a heresia chamada "Preterismo Completo", heresia esta que muitas vezes vem disfarçada com o título de "Escatologia consumada", "Escatologia plena", "Escatologia consumada" ou "Escatologia realizada".

O Preterismo parcial corretamente ortodoxo e bíblico, diferencia-se radicalmente do Preterismo completo que inclusive ensina que a ressurreição já aconteceu conforme a heresia cancerígena de Himineu e Fileto (2ª Timóteo 2:17-18).

Portanto, a diferença entre Preterismo parcial e Preterismo completo deveria ter sido feita pelo autor.

O segundo equívoco é a respeito da profecia de Zacarias 14:4. Esta profecia não ensina que literalmente Jesus vai descer no monte das Oliveiras e o monte se dividirá ao meio. Embora na profecia haja uma mistura de alusões proféticas literais e figuradas, Zacarias 14:4 não deve ser entendido literalmente, mesmo porque o profeta usa uma linguagem muito comum do Antigo Testamento que é a ideia de Deus "descer" ou "sair de seu lugar".

A ideia de Deus "descer", dos montes se dividindo ou derretendo, ou o abaixar do céu, ou Deus sair de seu lugar para encontrar o seu povo, são linguagens que na maioria dos casos indicam uma vinda em julgamento, mas em nenhuma das passagens há a indicação de que Jeová esteve fisicamente presente (confira Gênesis 11:5-8; Êxodo 3:8; Neemias 9:3; Salmo 144:5; Isaías 31:4; 64:1, 3).

A profecia do monte das Oliveiras se dividindo ao meio é a respeito da vinda de Cristo em julgamento contra Israel que ocorreu nos anos 67-70 d.C., e essa vinda desfez a divisão de judeus e gentios de uma vez por todas.

O terceiro equívoco é a respeito de Mateus 24:29-30. Vamos ler mais uma vez o texto:

"O sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados (...) e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens".

Como todos os outros, o autor Thomas C. Simcox ignora o imaginário judaico dessa passagem. Muitos acham que o Sol realmente vai se escurecer, ou seja, o Universo físico será abalado pela segunda vinda de Cristo.

A questão dessas figuras de linguagem é que elas revelam o chamado "Universo em colapso", e portanto, são imagens de des-criação do Universo. Dizer que o Universo está se desintegrando é a linguagem mais forte que o profeta acha no vocabulário humano para descrever a queda de uma nação que será invadida por outros exércitos. E este é o caso de Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 quando esses textos são exclusivos sobre a queda de Jerusalém e o templo que ocorreu ainda naquela geração da igreja primitiva.

Observe o leitor que toda vez que Deus mandava uma palavra de que iria julgar uma nação, algo era dito a respeito do Universo se desintegrando como simbolismo da derrota daquele determinado reino. Confira o exemplo da destruição do Egito em 587 a.C. (Ezequiel 32:7), a ruína de Samaria em 722 a.C. (Amós 8:9) e a destruição de Edom em 586 a.C., onde nesta última encontramos linguagem semelhante no livro do Apocalipse 6:12-14:

“E todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um livro; e todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e como cai o figo da figueira”.
(Isaías 34:4)

Além da questão da linguagem há também a questão de uma má tradução. O texto acima diz que "todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens". O problema está na palavra "nações" que no original grego deveria ser "ethnoi", mas não é esta palavra que encontramos no texto grego de Mateus 24, pelo cotrário, a palavra ali é "phula" que significa "tribos". No grego de Mateus 24:30 encontramos a frase "phulai tes ges" (tribos da terra), expressão esta que para os rabinos era uma referência a nação judaica e não ao Planeta terra. As nações fora da "terra" eram consideradas "mares". Na época ninguém imaginava "terra" como que significando Planeta terra de acordo com o conceito moderno.

Quando Jesus veio em julgamento nos anos 67-70 d.C., as tribos de Israel se lamentaram ao saberem de seu julgamento por parte do Filho de Deus.

Conclusão:

Não é a primeira vez que o site Chamada da meia-noite traz artigos de autores equivocados a respeito do Preterismo. Certa vez, um artigo intitulado "Ano 70 d.C.: O "Beco Sem Saída" Profético do Preterismo",[2] escrito por Randall Price, cometeu o grave erro ao dizer que o Preterismo reinterpreta "o texto a fim de ajustá-lo aos detalhes históricos preferidos como, por exemplo, dizer que “as nuvens do céu” significam a nuvem de poeira levantada pelo avanço das tropas romanas...".[3] (o grifo é meu)

Sinceramente, não sei de onde Randall Price tirou tal declaração, uma vez que é justamente no preterismo onde realmente se ensina com base bíblica sólida sobre o verdadeiro significado das vinda de Cristo nas nuvens.

Não coloco aqui em dúvida a honestidade e a sinceridade dos irmãos da obra missionária Chamada da meia-noite, bem como digo o mesmo a respeito de Thomas C. Simcox e Randall Price. Todavia, tem havido sim muitos equívocos e desconhecimento quando o assunto é Preterismo.

Obviamente sei que o artigo de Simcox é bem resumido, mas creio que mesmo que fosse um livro sobre o Preterismo, não haveria argumentos sólidos. Isto é o que tenho visto de todos os dispensacionalistas que tentam refutar o Preterismo.

Para que o leitor fique mais informado sobre o tema, abaixo vai alguns links (basta clicar nos títulos):

Zacarias 14 e a vinda de Cristo

Artigos sobre o tempo do fim e o Preterismo

Literaturas sobre o Preterismo e o Apocalipse

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* César Francisco Raymundo é editor da Revista Cristã Última Chamada.
Saiba mais sobre o autor clicando aqui

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Notas

1. 14 Falsos Ensinos - E Como a Bíblia os Refuta
     Autor: Thomas C. Simcox
     Site: www.chamada.com.br
     Acessado dia 13 Julho de 2016.

2. Ano 70 d.C.: O "Beco Sem Saída" Profético do Preterismo
Revista "Notícias de Israel", pg. 5, Ano 28 - Nº 6, Junho de 2006.
Site: www.chamada.com.br

3. Idem nº 2.